sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Morte de Carlos Paião

'Eu hei-de entrar para o Guiness'. Podia ter sido mais uma das trezentas músicas de Carlos Paião a chegar às lojas. Mas esta “espécie de malhão” nunca saiu da gaveta. Continua numa maqueta, na discoteca pessoal de António Sala, como revelou ao Página1 o “melhor amigo” do “genial criador de temas”, que, há 23 anos, morreu num acidente de viação.

Carlos Manuel de Marques Paião preferia “ser um bom cantor a um mau médico”. Mas foi, primeiramente, a veia vanguardista de compositor e de autor que lhe fechou, de vez, a porta do consultório, apesar do diploma de Medicina.

Após vencer vários festivais regionais de música, nomeadamente em Ílhavo – a sua terra-natal – no arranque da década de 80, o Dr. Paião aventurou-se, já de microfone na mão, no então mítico Festival da Canção. Concurso que um ano depois venceu, graças a 'Playback'.

Quando, em 1982, chega ao programa de televisão 'Foguete', de António Sala e Luís Arriaga, “já tinha bastante protagonismo, já dava nas vistas. Era diferente, avançado para a época. Só mesmo comparado, no mesmo contexto de poesia ligeira do século XX, a Ary dos Santos ou a António Variações”. Ainda assim, a voz do Despertar da Rádio Renascença admite que “a junção da coincidência televisiva e do talento criaram, a partir daí, um grande fenómeno de popularidade". Carlos Paião "ainda hoje é estimado e apreciado por jovens que nasceram após a sua morte" e esse constitui "o maior elogio que se pode fazer a um artista”.

E é assim mesmo que o eterno locutor de rádio define Paião. Às críticas da época sobre a ausência de uma grande voz, responde hoje com a definição de um “intérprete genuíno”, de “tantos e bons temas”, dos quais coloca na pole position 'Pó de Arroz'. Mas são muitos os que ainda permanecem na ponta da língua de muita gente. Talvez por isso, aquela tarde de Agosto, tenha sido de luto em cada casa portuguesa, após a notícia fatídica do seu acidente, em Rio Maior, quando regressava de um concerto em Fornos de Algodres.

“Naquele dia, parte da minha juventude, da rádio, dos espectáculos, da televisão, que fizemos juntos, ficou naquela carrinha”, recorda António Sala.

Mas, como dizia “o homem que a brincar falava bem a sério”, “a amizade é aquilo que fica depois das teias da lei. Por isso, até qualquer dia, porque da vossa simpatia, nunca mais me esquecerei”.

Joana Costa / Página1, 26/08/2011

Nota: Mário Martins já tinha falado do tema sobre o "Guiness" numa entrevista à RDP.

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